Medicina sexual e mulheres maduras

Durante uma discussão de casos na faculdade com os alunos:
“Ela tem tipo 90 anos. Não vou perguntar a ela sobre sexo!” diz o residente encolhido.
“Ela é mais velha que minha avó!”

Bem, meu jovem amigo, nossos pacientes de 80 e 90 anos tinham entre 20 e 30 anos na década de 1960. Você pode apostar que alguns deles eram bem legais e continuam assim!

Um estudo sueco com septuagenários revelou uma mudança nas atitudes sexuais: 5% das mulheres de 70 anos em 1970 citavam o sexo como um aspecto positivo da vida enquanto este número sobe para 78% em mulheres de 70 anos em 2000.
Aqueles de nós que, na prática, atingiram a maioridade durante a era da AIDS e junto com o movimento pela pureza da década de 1990 podem ser mais reservados sexualmente do que nossos avós.
Talvez precisemos nos atualizar!!
Na verdade, em outro estudo, 82% das participantes do sexo feminino de 97 anos sentiram que ser questionadas sobre sua sexualidade em ambientes de saúde era positiva.

Embora ocorram mudanças na fisiologia e no comportamento sexual com a idade, o envolvimento sexual satisfatório pode ser um fator importante no bem-estar geral e na saúde geral das mulheres mais velhas. Dada a alta prevalência de demência entre esta população, pode ser útil saber que a expressão sexual positiva pode atrasar o declínio cognitivo. Também temos evidências de que a satisfação sexual é importante para a saúde do casal, o que, por sua vez, ajuda a manter a saúde física.

No consultório, atualmente esta é minha percepção, mulheres de 70-80 se sentem mais livres com seus corpos do que as de 40-50. Percebo também muito uma visão limitada de médicos sobre o que é ter uma vida sexual saudável e que não abordam durante a consulta aspectos da vida sexual de seus pacientes. Este comportamento pode ser um reflexo de uma ideia que temos na sociedade de que para ter uma vida sexual satisfatória é necessário ter ereção e lubrificação, visto a quantidade de medicações desenvolvidas pela indústria farmacêutica para este fim. Com certeza todo o suporte é bem-vindo, mas ampliar a visão da gama de expressões sexuais saudáveis ​​e satisfatórias é importante.

Os adultos mais velhos podem ter mais problemas com a excitação fisiológica na forma de disfunção erétil e diminuição da lubrificação vaginal, mas esses problemas podem levar a outras propostas, com mais sexo oral, abraços, beijos e outras formas de brincadeiras sexuais em parceria.

Os adultos mais velhos podem concentrar-se menos no desempenho e mais na intimidade!
Na verdade, à medida que os casais heterossexuais se deparam com estas alterações fisiológicas, o seu comportamento sexual pode começar a centrar mais atenção no prazer feminino.
Boas notícias para mulheres mais velhas!

Infelizmente, ainda é presente ideias culturais que rotulam o idoso com um padrão de comportamental disfuncional em todos as áreas, inclusive na sua sexualidade. Me lembro que em 2022 a marca Reserva lançou uma campanha no Dia dos Namorados que trouxe visibilidade para temas como o etarismo, o amor em todas as idades e quebra de estereótipos na moda.

Nesta ocasião, passeava com amigas, reforço aqui que mais velhas do que eu, e antes que pudesse elogiar as fotos, que inclusive achei maravilhosas, a palavra que elas usaram, pasmem, para definir as fotos foi “nojo”. Deste ponto em diante, foram horas de discussão e quebra de conceitos e preconceitos. Mas querem saber, no fundo, acho que pouco ou nada mudou.

A velhice conserva a necessidade psicológica de atividade sexual continuada. Há a continuidade por pensamentos e desejos sexuais. Questões relativas ao sexo e atividades sexuais começam na mente.
É preciso desconstruir o preconceito social que existe em relação aos idosos sexualmente ativos.
Esclarecer que o sexo e a intimidade podem continuar a ser praticados, independentemente de padrões de desempenho e sem culpas. Descobrir que existem outras formas de prazer sexual.

Conforme descrito pelo especialista holandês em sexualidade e envelhecimento Woet Gianotten, MD, os adultos mais velhos têm muitas vantagens em suas vidas sexuais. Muitos estão aposentados com mais tempo disponível, menos estresse no trabalho, maior conforto e familiaridade com os parceiros e menos insegurança em relação ao corpo.

Se encontrar nesta fase e viver o envelhecimento encontrando o prazer não só na atividade sexual, mas nas diversas áreas da vida é o ponto de partida da maturidade.