Seu nome significa “filha do sol”, e como tal, sua história acende um debate muito importante relacionado à diversidade, longevidade, cidadania e pertencimento. Isso porque Mona é uma mulher negra, periférica, tem mais de 50 anos e mais uma característica: vive com uma deficiência física, e foi a primeira mulher negra cadeirante a se apresentar como atriz e bailarina no Theatro Municipal de São Paulo, em 2017.
E aqui convido você, caro(a) leitor(a) a imaginar como seria o envelhecimento das pessoas com deficiência, onde elas estariam e se existe mais um preconceito ou discriminação para somarmos na lista de estigmas já existentes como o racismo ou a LGBTfobia.
O relatório Mais Diferença, publicado em 2019, informa que até 65% das pessoas idosas convivem com algum tipo de deficiência (física, mental, sensorial ou intelectual), e isso será impactado e vivenciado de maneira muito particular dependendo de fatores intrínsecos da pessoa e também relacionado à maneira como a sociedade inclui ou exclui a sua vivência.
Isto porque uma maneira de entender a diversidade corporal mais atual é o Modelo Social da Deficiência, que entende que não é a pessoa com deficiência que tem um problema e que precisaria se adaptar, e sim a sociedade que não promove a inclusão e o pertencimento de todas as pessoas.
Ademais, as barreiras de acesso à cidadania não são apenas arquitetônicas, mas também expressas em comportamentos, atitudes e comunicações, as quais necessitam de exercícios de educação e cultura para que sejam transpassadas.
E todas essas questões, incluindo o capacitismo (preconceito relacionado às pessoas com deficiência) irão se misturar com outras vulnerabilidades encontradas na velhice. Por isso, o envelhecimento de pessoas com deficiência pode ser acompanhado de privação de direitos, falta de acessibilidade, baixos índices de autonomia, situações de abandono e solidão, confinamento domiciliar, violência patrimonial e baixa oferta de serviços de cultura, educação e lazer.
Por essas razões, é urgente ouvir as pessoas idosas com deficiência e garantir o seu envelhecimento digno, lembrando que uma vida com cidadania e dignidade não é somente quando se acessa serviços de saúde, mas quando há completa possibilidade de participação social. Além disso, refletir sobre diversidades corporais apenas sob uma ótica biológica ou biomédica é muito superficial. Pelo contrário, são inúmeras questões socio-psicoculturais que atravessam esse público, as quais muitas vezes permanecem invisíveis ao poder público e ao senso comum.
Ainda neste cenário, por um lado, muitas das violações dos direitos humanos das pessoas com deficiência são naturalizadas e consideradas normais pela nossa sociedade. Por outro, quase não se encontram livros referência na área da longevidade a tratarem desse tema, como se as pessoas com deficiência não envelhecessem.
Mas afinal, defender a inclusão vai beneficiar apenas as pessoas com deficiência?
A resposta é não!
Primeiro, uma sociedade rica e que enriquece é aquela em que ninguém fica para trás! Todos são “aproveitados” em suas potencialidades, lembrando que pesquisas demonstram que as equipes mais criativas e inovadoras são as mais diversas em todos os sentidos.
E segundo, todos nós, mesmo que hoje não convivamos com alguma deficiência, estamos sujeitos a alguma intercorrência amanhã. Basta lembrar que se você estiver lendo essa mensagem caminhando e num descuido cair e fraturar a perna, teria muitos benefícios se a empresa, restaurante, cinema, hospital e todos outros locais que estiver habituado a frequentar apresentarem acessibilidade.
Mona faz questão de repetir o significado de seu nome, “filha do sol”, numa forma de se empoderar e de levar essa luz necessária ao debate sobre inclusão e pertencimento. Por isso, convido todes a sentirem sua presença e se aquecerem com seus raios para que um futuro menos desigual e injusto seja possível.