Outro dia, passei por uma situação que me fez refletir a respeito de como nossa sociedade exclui os idosos. Fui fazer um exame em um laboratório da rede A+ em São Paulo e, enquanto esperava, ouvi uma discussão de um senhor com a atendente:
“Eu verifiquei aqui em nosso sistema e o exame do senhor não foi confirmado.”
“Foi sim, eu fiz o agendamento diretamente pelo telefone.”
“Ah, então.. É que o senhor precisaria ter confirmado pelo nosso app.”
Um pouco constrangido, ele responde: “Hm, veja bem, eu não sei mexer nessas coisas direito. Eu não entendo de internet, computadores, sou de uma geração diferente da sua, sabe? Isso significa que eu vou perder a viagem?”
“Olha, a minha sogra sabe mexer direitinho no celular e ela tem 81.” Sim, ela disse isso!!!
“É, eu tenho 84 anos e não sei…”
Como não ficar indignada com a situação que presenciei no laboratório? Fiquei chocada com a falta de preparo e empatia da atendente, mas também com a exclusão que a tecnologia pode gerar para aqueles que não estão familiarizados com ela. Seja pelo abismo da idade ou pela falta de conhecimento.
Quantas vezes eu já tive que resolver alguma coisa (acessar boleto, enviar documento, enviar receita em pdf, fazer uma reclamação) e a única opção era via aplicativo ou site?
A questão vai além do atendimento direto ao público sênior. Ela passa pela quantidade de idosos que não conseguem emprego simplesmente por uma questão de preconceito etário e chega até no tamanho da fonte dos rótulos dos produtos encontrados nas prateleiras dos surpermercados.
Segundo o IBGE de 2023, hoje temos no Brasil mais de 22 milhões de idosos, o que corresponde a cerca de 15% da população total. A expectativa é que esse número só aumente nos próximos anos, então me vem a dúvida: até quando essas pessoas vão continuar sendo invisibilizadas pelas marcas e pela sociedade?
Mesmo com 30 anos, entendo que essa é uma realidade que precisa ser enfrentada de frente. Afinal, eu também vou envelhecer e parece que muitos jovens simplesmente ignoram esse fato. A tecnologia deveria ser uma ferramenta de inclusão, não de exclusão. É hora de repensarmos como estamos lidando com essa transição digital e garantir que ninguém seja deixado para trás, especialmente nossos idosos, que merecem todo o respeito e apoio. É uma questão de justiça e dignidade para todas as gerações.
A frase “envelhecer não é fácil” nunca fez tanto sentido como agora.