Como não deixar que o digital domine sua vida real

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Esses dias o Facebook me lembrou de uma recordação de 4 anos atrás. Era um post sobre política em plena eleição presidencial no Brasil. No post, eu defendia com veemência um candidato, ou seja, abria o meu voto. É direito do cidadão falar e defender suas ideias, claro, mas será que o ambiente de fúria em que estávamos vivendo naquele ano de eleição não chegou a beirar a loucura coletiva generalizada?

Ainda em 2014, as redes já começavam a apresentar um papel importante nas eleições. Segundo o Instituto DataFolha, 22% declararam ter compartilhado conteúdo indicando seu candidato preferido naquele ano e 46% revelaram compartilhar conteúdo sobre eleições políticas em seus perfis.

Em 2018, talvez a polarização tenha chegado ao ápice, com a radicalização dos discursos e debates entre amigos e familiares e com o tema político invadindo todas as redes de forma ampla. E não só no Brasil. Dois anos antes, nas eleições americanas que elegeram Donald Trump, os debates acalorados também dominaram as redes.

Já nas eleições de 2022, 53% dos eleitores com contas em redes sociais ou em aplicativos de mensagens disseram ter mudado de comportamento por causa da divergência política com seguidores, amigos e familiares, durante o primeiro turno. O que mostra que algo não foi para o lado que as pessoas imaginavam.

Você já teve a sensação de ser lembrado de algo que fez ou escreveu há anos e sentiu vergonha?

Pois é, desta vez, ao ver o meu próprio conteúdo compartilhado 4 anos antes, eu senti!

As redes sociais utilizam de uma lógica perversa de algoritmos colocando à sua frente conteúdos que vão lhe fazer tomar alguma ação –  clicar num botão, enviar para um amigo, salvar,… – porque esta ação aumenta seu tempo de uso da rede e, portanto, você é “premiado” com mais conteúdos daquele tipo. É uma enorme bola de neve que vai crescendo.

Então, em seu feed, como é chamada a página que exibe os posts das pessoas que você segue, vai sempre mostrar alguma coisa em que você tende a clicar, comentar ou tomar qualquer ação mais do que outros assuntos, aos quais você não reagiria.

Essa lógica – que eu considero perversa – pode ser conferida em mais detalhes por quem se interessar em aprofundar-se no assunto em The Social Dilemma, documentário disponível na Netflix.

Mas o que fazer para não cair nessas armadilhas?

Não há resposta certa, mas uma delas passa pela disciplina do tempo de uso das redes.

Eu não acredito que é possível hoje viver fora das redes sociais sem sentir um impacto considerável em relacionamentos, trabalho e projetos pessoais. Sinceramente, não consigo lhe recomendar que você apague suas contas nas redes sociais porque sei que isso vai durar um tempo e você acabará voltando – até sou bem fã de um detox como experimento temporário, porque ele pode lhe mostrar muito sobre o quanto você tem infringido seus limites utilizando a tecnologia – mas a principal arma para combater o uso excessivo desta lógica não é “varrer pra debaixo do tapete” e sim, o conhecimento. E é isso que eu quero entregar pra você nesta coluna do MINMD, conteúdo para você transformar em conhecimento e assim mudar seus hábitos.

As redes sociais se tornaram o lugar em que as pessoas muitas vezes leem “o noticiário sobre você”; o que você fez ontem, onde almoçou, como foi o treino na academia, se trabalhou até tarde, se ganhou uma lambida do seu cachorro ao chegar em casa…

O Facebook – e também o Instagram – re-lançaram o ser humano como mídia. Ele é o canal, o formato e o assunto – ou seja, o meio e a mensagem. De fato, é uma invenção genial, temos de reconhecer, mas que tem seus impactos negativos também. O efeito de um like pode gerar reconhecimento ou frustração. Qual delas você acha que  gostamos de ter como resposta?

A culpa não é (só) das redes!

Sinto dizer, mas a base disso tudo é o seu comportamento. Como tudo na vida – e isso deveria tornar as coisas mais fáceis – a forma como você reage ao que acontece é o que influencia sua vida, e não necessariamente o que acontece. 

Se eu estou buscando reconhecimento, likes e aprovações para o que vivi naquela semana, por exemplo, minha tendência é compartilhar apenas a parte boa da história ou ainda mostrar a versão melhorada de quem sou. Afinal, quem segue os fracassados?

Então, ao agir assim, começo a formar uma realidade distópica da de quem eu sou, podendo me tornar refém dessa mecânica – ou até mesmo acreditar nela, o que seria ainda mais perigoso.

7 dicas para você não virar refém das redes sociais!

A lista abaixo eu fiz a partir de testes em minha própria forma de lidar com as redes no meu dia a dia. Espero que te ajude a se manter centrado no momento presente e vivendo relações ao vivo, para além das digitais:

1- Crie horários na agenda para acesso do seu Facebook, Instagram…

Principalmente se elas são importantes para o seu trabalho ou projeto pessoal, fazendo você ter de checá-las o tempo todo. Portanto, eleja o momento do dia em que isso acontece e limite um tempo. É trabalho sim, mas os outros trabalhos também são importantes.

2-Coloque em seu celular metas de tempo de uso para esses aplicativos

Definindo que seja avisado ao atingir esse limite. É também dentro deste tempo que você vai responder a mensagens e interações nestes canais.

3-Busque momentos do seu dia em que seu celular e as redes sociais simplesmente não vão entrar!

Você não vai registrar nada em tempo real, só viver o momento presente. Deu vontade? Tire uma foto com a máquina do celular e depois, se quiser, poste, mas não agora.

4-Medite

A respiração e a meditação ajudam a baixar a ansiedade, e as redes são uma válvula de escape muitas vezes para ansiedade, procrastinação e ócio. Meditar vai te ajudar a diminuir esse impulso quase que involuntário.

Clique aqui e conheça 10 tipos de meditações.

5- Ao compartilhar conteúdo, fale também sobre o que deu errado

Conte histórias de insucesso e que não atingem as expectativas dos seus seguidores. Mostre-se como uma pessoa real, que tem dias bons e ruins.

6- Desligue as notificações do seu celular

Tem coisa pior do que você estar fazendo algo que elegeu como importante naquele momento e ser interrompido por um aviso de “seu amigo comentou sua foto”? Será que você vai resistir à tentação de ir lá ver o que foi comentado…? É difícil, concorda?

7- Defina a rede prioritária para você e desligue a postagem automática de uma rede para a outra

Assim você terá menos interações para responder no dia a dia.



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