Não vou dourar a pílula aqui, a resposta imediata é: sim!
Há diversas pesquisas comprovando que, ao utilizar a tecnologia mais para atividades recreativas empobrecedoras do que para o aprendizado e a transmissão de conhecimento, ficamos mais burros e com memória curta.
Mas eu tenho uma visão otimista. Acredito que a evolução da Inteligência Artificial pode mudar esse cenário no médio prazo, simplesmente porque ela nos faz pensar!
Recentemente, li um livro do autor e empreendedor Rodrigo Murta. Resumidamente, ele diz o seguinte: o ChatGPT pode ser seu melhor assistente! Eu só fui entender isso quando resolvi testar a ferramenta – e recomendo que você o faça também.
Mas isso é tema para outro artigo!
A questão não é tanto a inteligência, e sim o foco e a atenção!
Se você, como eu, nasceu na era analógica, já deve ter percebido que é muito mais difícil se concentrar na leitura de um artigo em seu celular do que em uma revista ou livro, por exemplo.
Isso acontece não devido à tela ou ao papel, mas porque os devices tecnológicos foram feitos para “roubar” sua atenção, buscando sua atenção ou clique a todo momento. De tempos em tempos, notificações e avisos sonoros chegam em seu celular, levando você a abrir um aplicativo para ver o que aquela pessoa comentou sobre você na rede social.
É a era da atenção!
Além disso, nos sentimos compelidos a voltar sistematicamente para uma rede social, porque, da forma como foram desenvolvidas, elas elevam nosso nível de dopamina sempre que recebemos algo em troca do que publicamos ou “postamos”. Ou seja, é um sentimento de busca constante por compensação através das redes que pode, sim, viciar!
Como consequência, o tempo que você poderia estar investindo em ler um livro ou o jornal do dia, mesmo que na Internet, acaba se diluindo com outras atividades recreativas, como abrir seu Instagram ou Facebook, ansioso pelo próximo like ou comentário.
- No meu artigo anterior, falo mais sobre como você pode evitar isso. Leia aqui.
Essa superestimulação da atenção também coloca você em estado de alerta constante, diminuindo o relaxamento necessário para, por exemplo, a leitura de um livro por longas horas e dificultando a concentração.
Como manter o foco, então?
É possível, claro, mas é preciso muito esforço.
Quando algo te chamar para abrir o app do Facebook pela milésima vez no dia, pense: qual a finalidade mesmo de checar minhas redes sociais agora? O que isso agrega para mim? Como eu poderia estar usando meu tempo melhor?
Sugiro também desligar as notificações do seu celular. Você pode ver como fazer isso aqui.
Diversidade versus qualidade
Outra questão importante em relação ao uso da Internet atualmente é o volume de informações que ela apresenta em uma simples busca no Google ou na sua rede social preferida.
Fica nítido que quantidade nem sempre está acompanhada de qualidade.
De tudo que você “scrolla” (do verbo scroll, rolar) em sua tela ou na tela principal de sua rede social, grande parte é composta por conteúdos breves, fotos e posts que relatam o cotidiano das pessoas: um jantar romântico, uma viagem da sua amiga, o pet do seu vizinho… e tem os conteúdos patrocinados também, que basicamente são anúncios que se sobrepõem ao que você está de fato buscando naquele momento, muitas vezes visando criar em você um desejo que não tinha antes.
Acredito que um dos maiores desafios dessa era tecnológica é justamente a curadoria
Quando a gente lia revista ou jornal, os editores selecionavam, dentre muitos fatos, aquelas que estariam na edição do dia ou da semana. Ou seja, era um trabalho que alguém fazia para você. Hoje, este trabalho passou às suas mãos; o que toma tempo, é verdade, mas, pelo lado bom, também te dá maior liberdade de escolha.
Para quem quiser se aprofundar no assunto “inteligência versus tecnologia”, vale conferir essa entrevista concedida para a BBC do neurocientista Michel Desmurget, autor do best-seller A Fábrica de Cretinos Digitais: Os perigos das telas para nossas crianças (Vestígio).
Intitulada “Geração Digital: por que, pela primeira vez, filhos tem QI inferior ao dos pais“, a reportagem é de 2020, ano em que a pandemia digital fez com que a aceleração digital crescesse exponencialmente. Estudos indicam que a digitalização, que vinha num determinado ritmo até aquele ano, cresceu quatro vezes mais devido ao isolamento social. (arrisco dizer que, três anos depois, o cenário deve ter piorado).
Michel é diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França e apresenta dados de como os dispositivos digitais estão afetando o desenvolvimento neural de crianças e jovens. Ele também explica que o cérebro é um órgão adaptativo, que se molda conforme as situações e ambientes, ainda que com o passar do tempo essa plasticidade diminua.
“O cérebro pode ser comparado a uma massa de modelar. No início, é úmida e fácil de esculpir. Mas, com o tempo, fica mais seca e muito mais difícil de modelar“
Mas podemos retardar esse processo, ao modificar nossa experiência:
“Observou-se que o tempo gasto em frente a uma tela para fins recreativos atrasa a maturação anatômica e funcional do cérebro em várias redes cognitivas relacionadas à linguagem e à atenção“
Encarar a tecnologia como nutrição para o cérebro é uma forma de usá-la sem medo. Que tal experimentar esse mindset?
Não significa que você precise deixar o entretenimento e o ócio de lado.
Como tudo na vida, foque em equilíbrio!