Quantos dias quantas noites: Documentário debate a revolução da longevidade

O documentário Quantos dias quantas noites, dirigido por Cacau Rhoden, avisa: o humano que vai viver 150 anos já nasceu. Pois é, a longevidade não é apenas um dado do nosso tempo, mas uma revolução, com tremendos impactos individuais e coletivos. Por isso, quanto mais cedo o envelhecer se tornar uma jornada consciente, melhor para todos, alertam estudiosos e especialistas entrevistados por esta tocante produção.

Aqui no Brasil, ainda mais. De acordo com o Censo Demográfico 2022, a população brasileira está ficando cada vez mais velha. Para se ter ideia, em 1980, o país tinha 4% da população com 65 anos ou mais de idade. Já em 2022, esse grupo etário representou 10,9% da população total, um crescimento de 57,4% em relação ao Censo Demográfico 2010, quando esse percentual era de 7,4% da população.

No filme, profissionais da saúde, pensadores e cuidadores debatem os dilemas impostos pela passagem dos anos. Desde os encargos decorrentes do aumento da expectativa de vida até as desigualdades que envolvem o envelhecer em nossa sociedade dramaticamente desbalanceada.

Como oferecer dignidade e cuidado aos velhos mais vulneráveis, por exemplo? Qual a importância da comunidade na hora em que a família e o Estado faltam? Duas reflexões valiosíssimas que não escaparam da pauta.

Mas também o documentário se abastece da potência e das possibilidades de renovação encontradas na maturidade e mostra como podemos aproveitar o tempo de uma existência longa, gerando propósito, bem-estar e alegria em nossos dias e noites.

“Apesar de falarmos sobre finitude e longevidade, o filme é um manifesto pela vida, também. Ele me ajudou a enxergar nosso tempo de outra forma, a amar de outra forma, a aproveitar cada segundo de vida, de outra forma”, afirma o diretor Cacau Rhoden.

Inspirador, não é?

Confira, a seguir, cinco reflexões partilhadas por participantes do documentário:

1-O envelhecimento está acelerado

“Essa revolução, do que significa o tempo, é muito recente. Nós estamos muito mais preocupados com o impacto da tecnologia do que com o impacto mais importante e revolucionário que é o envelhecimento rápido – que é o fato de o Brasil, hoje, ter 14% de pessoas com mais de 60 anos, e daqui a 30 anos, ter 31%. A coisa mais importante deste século vai ser o envelhecimento.”

Alexandre Kalache, médico gerontólogo, presidente do Centro de Longevidade – Brasil.

2-Longevos, sim, mas com qualidade de vida

“Em 2050, a pirâmide populacional estará invertida. Teremos mais idosos do que crianças e jovens. E o que o poder público está fazendo para cuidar dessas pessoas que a gente trabalhou tanto para que vivessem mais. Nós queremos acrescentar vida aos dias ou somente dias à vida?”

Alexandre Silva, líder da Comunidade Compassiva.

3-O legado dos seniores é valioso

“Eu penso que a nossa sociedade é incapaz de prestar atenção no próprio tempo. A gente não respeita o envelhecimento e o que isso significa em termos de habilidade, de sobrevivência, capacidade de partilhar experiências de quem é mais velho.”

Dra. Ana Claudia Quintana Arantes, médica especializada em cuidados paliativos e escritora.

4-Por mais profissionais maduros no mercado de trabalho

“Tem realmente um lado cruel, das pessoas serem deixadas de lado por serem consideradas velhas. E isso, às vezes, acontece muito cedo, com 50 anos, até menos já se é considerado velho. Se por um lado tem muita gente entrando no mercado de trabalho agora, precisando de experiência, aceitando um valor mais barato, num primeiro momento isso parece mais vantajoso. Mas as empresas perdem muito com isso, porque essas pessoas não têm a experiência de vida que é tão importante. Muitas organizações já trabalham a diversidade e a inclusão há muito tempo, enfocando questões de gênero, raciais, LGBTQIA+, de pessoas com deficiência. Porém, esses colaboradores são jovens. E eu falo para os gestores que essa diversidade é muito importante. No entanto, se é todo mundo jovem, de alguma forma vão pensar parecido, porque são da mesma geração. Então, precisa existir a diversidade de idade, para ter pessoas que pensem diferente, porque é comprovado que a diversidade traz inovação.”

Mórris Litvak, criador da Plataforma Maturi.

5-A importância de se ter um propósito

“Se eu puder inspirar e impactar a minha comunidade, isso já faz parte do meu legado, e é isso que não morre, isso segue vivo.”

Tom Almeida, fundador do movimento iNfinito.

Documentário Quantos dias quantas noites (2023, 91 min)

Disponível gratuitamente na plataforma ItaúCultural play

https://www.itauculturalplay.com.br/
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