Nos tempos das nossas avós, ter 51 anos, como eu, Rita Silva, tenho, significava ser velha, se aposentar e ficar em casa vendo a vida passar. Nunca pensei nisso! Sempre quis aprender coisas novas e quebrar paradigmas.
Aprecio muito a arte. Cursei fotografia, em 1997, e comecei a fotografar no interior de São Paulo (com uma analógica que tenho até hoje). Anos mais tarde, me casei, mudei para a capital e continuei no ramo das imagens…Sou casada há 18 anos, tenho uma filha de 13 anos.
Comecei, como disse, com a fotografia, depois vieram trabalhos manuais. Foram anos criando peças de decoração em paralelo. Em 2020, no tumulto da pandemia, as portas se fecharam, devido à Covid-19, e eu precisava aprender algo. Ficar sem produzir não é minha cara.
Foi quando uma amiga, que já trabalhava com acessórios de latão (só que banhados a ouro), me chamou para fazer uma aula com ela numa escola de joias. Ela estava em preparativos de mudança para a França, então se propôs a me ensinar algumas técnicas e a dar dicas de fornecedores. Topei na hora!
Depois disso, fiz vários cursos, testei as ideias que borbulhavam e comecei a usar a criatividade. Outra coisa boa nisso tudo é que levo muito a sério a sustentabilidade no meu trabalho. Estudando a respeito, descobri que o latão é 100% reciclável. Além disso, ele não é poluente e é antialérgico, se constituído apenas por zinco e cobre sem a presença do níquel (metal cancerígeno e causador de dermatite de contato). Prezo também por processos limpos e amigáveis ao planeta. As embalagens são em algodão cru, que eu também costuro uma a uma e estampo manualmente. Não uso nada de plástico.
Criar é fonte de alegria genuína
É transformador fazer algo com as mãos a partir de uma matéria-prima sem forma e dar vida a ela. Sempre quis fazer algo diferenciado, algo que fosse único, personalizado e, principalmente, cheio de afeto, para que cada cliente se sentisse acolhida, abraçada quando recebesse o seu acessório. Aliás, na época em que iniciei esse trabalho com latão, eu estava com 49 anos, e, em 2021, faria 50. Queria exaltar o meio século de vida bem vividos com algo que me desse alegria justamente por poder fazer outras mulheres felizes também, mostrando que podemos produzir em qualquer idade.
Limitar-se por causa dos anos acumulados não é para mim. Carrego comigo uma história. Todas nós temos bagagem muito maior do que quando éramos mais jovens e estávamos aprendendo coisas. É perda de tempo não querer se inovar. A energia que tenho hoje – graças à musculação e à alimentação saudável -, a maturidade, a experiência, tudo me faz querer ir além. Não podemos parar de aprender, de se reinventar, de estar em constante movimento…
O que vale nessa vida é a diferença que podemos fazer na vida das pessoas
Com aquilo que adquirimos ao longo dos anos podemos agregar muitas coisas à vida das pessoas. Conhecimento sem compartilhamento não diz nada. Saber apenas para si mesmo não muda coisa alguma. Todos os dias eu aprendo algo novo, enfrento desafios, encontro algo de belo, seja no outro, seja em mim mesma (porque autoconhecimento é vida), seja em meu relacionamento conjugal, seja com minha filha, nas minhas amizades, nos contatos diários. Vamos caminhando e aliviando a bagagem, nos reciclando, nos enchendo de coisas renovadas. Também vamos deixando marcas na vida das pessoas e levando algo delas nessa troca caminho afora.
Antes de terminar, queria compartilhar algo que significa muito para mim. Minha mãe faleceu em 2019, aos 72 anos, vítima de um câncer de intestino. Ela começou a trabalhar fora, aos 52 anos, como costureira piloto em uma confecção. Antes disso, ela sempre cuidou da casa, mas buscando aprender algo novo. Costurava nossas roupas (minha e das minhas duas irmãs), aprendia receitas, bordado, artes. E assim deixou um legado de garra, de força. Isso me inspirou muito em minha própria trajetória.
Batizei meu ateliê de Magnólia, o nome da rua onde morei a vida toda, no interior de São Paulo. Uma homenagem à minha mãe, porque lá foi meu berço de inspiração diária.