Por Lélia Lyra
Anda triste, de baixo-astral? Então arrume as gavetas, lave um cesto de roupas, passe um pano no chão, vá dar uma poda nas plantas…
Ao captarem um espírito entediado, preguiçoso, nossas mães e avós viviam tendo idéias para nos ocupar sem saber o santo remédio que estavam prescrevendo contra tristezas e até a depressão.
O jeito antigo e espontâneo de espantar minhocas da cabeça, sem enfiar nela substâncias químicas, foi agora atualizado pela neurociência, noticiou a Folha de S. Paulo. Pesquisas sobre o tema defendem trabalhos ou atividades simples do cotidiano como forma de resistência a desânimos em geral.
O principal dessa história está no nosso sistema de recompensa, um grupo de estruturas cerebrais responsáveis por recompensar atitudes úteis, creio que especialmente aquelas importantes para nossa sobrevivência.
Então temos de “agradar” esse sistema quando ele está meio para baixo. Talvez um elogio, um beijo, abraço, cafuné resolvam. Mas se a ansiedade estiver em alta, é melhor optar por estímulos mais intensos. Por isso é que esfregar roupas no tanque poderá fazer você se sentir muito bem.
A pesquisadora e neurocientista entrevistada no artigo, a americana Kelly Lambert, chefe do departamento de psicologia de uma faculdade na Virgínia e autora de livro sobre o assunto, define a questão como um “circuito de recompensa adquirida pelo esforço”, envolvendo prazer, movimento e solução de um problema.
A explicação: “A sensação de sucesso ao tricotar, montar um quebra-cabeça ou apenas limpar o chão, dependendo do gosto, é acompanhada de substâncias que deixam a pessoa mais persistente. Ou menos depressiva…”
Foi outro estudo americano que motivou a atenção da cientista. Apontava que pessoas nascidas até 1940 eram dez vezes menos propensas à depressão do que quem nasceu depois. Na ausência de uma mutação biológica importante no funcionamento cerebral, Kelly Lambert credita a mudança de estilo de vida dos dias de hoje ao fenômeno.
As pessoas ficaram menos ativas, com trabalhos mais sedentários, usando muito mais a mente do que o corpo. A mente cansada fica vazia e, como diz a sabedoria popular, cabeça vazia é oficina do Diabo!
Cheia de caraminholas na mente, seu espírito só pode azedar. Siga a recomendação da ciência: adoçá-lo com movimento, prazer e esforço que levem a uma doce e recompensável solução.
É bom lembrar, no entanto, que o cérebro tem também um setor, bem atrás da testa, responsável pela nossa capacidade de prever as consequências de um ato. Em outras palavras, ter juízo. Então você precisa conciliar a avidez por recompensas fortes com seus limites.
Se uma parte do seu cérebro requer aventura para apaziguar o espírito e a outra é incapaz de lhe avisar dos perigos, você pode dançar: corre o risco de se machucar e não concluir a tarefa. Talvez com um pé quebrado porque subiu no banquinho para fazer faxina, vai ficar mais sedentária e acabar deprimida… Daí o Diabo, em vez de você, venceu a parada!
Você pode saber mais sobre esse assunto em:
A entrevista da neurocientista Kelly Lambert saiu na edição de domingo da FSP, 11 de outubro, no caderno Mais!.
O livro da cientista: “Lifting Depression” (Suspendendo a Depressão, Basic Books, 288 pgs).
A foto chama-se I’m Starting to Crack que seria algo como “estou começando a ter uma crise”, é de uma australiana, Nina, a 1Happysnapper do Flickr.
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Respostas de 10
A neurociência sabe também que o maior aliado para derrotar o diabo é adotar o prazer das pessoas com quem nos identificamos; isso ocorre através dos núcleos septais bem na linha média do cérebro. Em resumo, se o que te dá realização for compartilhado com uma pessoa querida, torna-se “lei” para seu circuito de recompensa.So,se não vai ter juízo,faça junto! Bj
Meu truque é passar roupas. Quando as coisas estão enroladas, nada melhor que passar o tempo tentando se livrar dos mais pequenos amassadinhos. E ainda fica aquela vontade de aproveitar as roupas passadinhas e sair por aí…
Sonia querida, complemento crucial você fez. Acho que temos muitas faltas de juízo em comum, só tá faltando mais oportunidade de partilharmos. Saudades, bjs.
Capitu, obrigadíssima pelo seu comentário. E, precisando aliviar a alma, tem sempre um cestinho de roupa na minha casa à sua espera. Não se acanhe… Bjs
acredito muito na ato do “fazer” .Passei por algo parecido meus sentimentos eram os piores e sentei no terraço.Reparei a mesa de madeira que estava seca sem cor …Lixei encerei e me senti o máximo!!!Precisamos nos aproximar com o brincar , usar as mãos par a criar ,inventar.Vejam no Mam um artista que trabalha com papel , faz tudo de papel!! Um dos trabalhos é um quadrado que é desenhado pelo lápis (TODOS DE PAPEL) Deu vontade de fazer!!Só vontade…
Lélia, vc diz que “cabeça vazia é oficina do Diabo!”, mas o contrário parece ser muitas vezes pior. Quantos não reclamam: Tô de cabeça cheia. Afinal, me esclareça: cabeça cheia é oficina do quê?
Claudia, é isso mesmo! O esforço que dá recompensa pode ter até arte e revelar “véias artísticas”. Não é o máximo? Bjs
Acho que cabeça cheia tá mais pra dragão! Tudo queima por dentro se vc não puser o fogo pra fora. A cabeça está tão lotada, exausta, que nada cabe — e nesse sentido fica vazia, prontinha pro diabo deitar e rolar!
a d. Cleonice, minha querida professora de história da 1ª série, sem formação em neurociências, sugeria, em 67, arear panelas.”
Sábia d. Cleonice… Mas haja braço!