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Mãe, é hora de você aceitar: eu não quero todas as suas coisas para mim, por Isabella Gerevini

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Ao me mudar de casa com minha mãe, me vi diante de um dilema que talvez muitas  já tenhamos enfrentado: o que fazer com todas aquelas coisas que foram tão importantes para nossas mães e avós? A mudança revelou o que eu já sabia, mas evitava pensar: não temos espaço para guardar tudo. Faqueiros de prata, taças e jogos de copos de cristal, móveis de madeira de lei… Além disso, esses itens, que em um outro momento foram símbolo de status e herança, agora parecem não encontrar mais lugar nas nossas vidas.

As novas gerações – falo isso por experiência própria – estão adotando um estilo de vida mais minimalista, não apenas por influência de tendências modernas, mas também por necessidade. O custo de morar em espaços amplos aumentou tanto que fica inviável manter todos esses itens, por mais valor sentimental que tenham. Até o preço de mandar fazer um móvel sob medida para guardar tudo é absurdo (fiz a cotação de dois armários SEM porta e deu 25 mil reais) Isso nos coloca em uma posição difícil, muitas vezes recheada de culpa. Afinal, como dizer à nossa mãe que não queremos ou não temos espaço para aquilo que ela cuidou e guardou com tanto carinho?

Existe um receio silencioso de magoar. Esses objetos representam histórias, momentos especiais, memórias afetivas. Mas, para nós, eles acabam se tornando um peso — literalmente e emocionalmente. A geração atual está cada vez mais consciente sobre o que consome e sobre o impacto de acumular objetos que não trazem funcionalidade ou propósito no dia a dia. O dilema está em encontrar o equilíbrio entre honrar essas tradições familiares e criar espaços que reflitam nossa própria identidade, sem o peso físico e emocional das coisas que carregamos de outras épocas.

O processo de desapego não é fácil. Essa decisão muitas vezes nos remete a situações de muito afeto e de lembranças  queridas. Eu me lembro da minha avó dando chás para as amigas em casa, servindo comidinhas chiques e gostosas em louças lindíssimas, pintadas à mão. Mesmo assim, sei que manter essas coisas não faz sentido para o estilo de vida que busco. Talvez, você sinta o mesmo. Então, como lidar com esse dilema? Talvez o caminho seja aceitar que, por mais importantes que esses objetos tenham sido, eles não definem quem somos ou o amor que temos por nossas famílias. Às vezes, a melhor forma de honrar o passado é abrindo espaço para o presente — e isso pode significar deixar algumas coisas irem.

A realidade é que, assim como nós evoluímos, nossas necessidades também mudam. O verdadeiro valor das coisas não está em guardá-las para sempre, mas nas memórias e nas histórias que elas carregam. E essas, felizmente, sempre cabem em qualquer espaço.



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